terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

"O Banquete"

“Recordar-se não é o mesmo que lembrar-se; não são de maneira nenhuma idênticos. Podemos muito bem lembrarmo-nos de um evento, rememorá-lo com todos os pormenores, sem por isso dele ter a recordação. A memória não é mais do que uma condição transitória da recordação: ela permite ao vivido que se apresente para consagrar a recordação. Esta distinção torna-se manifesta ao exame das diversas idades da vida. O velho perde a memória, que geralmente é de todas as faculdades a primeira a desaparecer. No entanto, o velho tem algo de poeta; a imaginação popular vê no velho um profeta, animado pelo espírito divino. Mas a recordação é a sua melhor força, a consolação que os sustenta, porque lhe dá a visão distante, a visão de poeta. (…) Os óculos dos velhos são graduados para ver ao perto; mas o jovem que tem de usar óculos, usa-os para ver ao longe; porque lhe falta o poder da recordação, que tem por efeito afastar, distanciar. “

Soren Kierkegaard

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