terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Prepara-te para a morte e segue-me

"Como és agora, assim fui eu em tempos.
Prepara-te para a morte e segue-me."

Pedra tumular em Nova Inglaterra

"Eu não estou louca, apenas velha. Afirmo-o para ganhar coragem.
(...)
A velhice dizem que é uma desistência gradual.
(...)
Encontro-me num campo de concentração para velhos, um lugar onde as pessoas despejam os familiares como se fosem um balde para cinzas.
(...)
Só estará bem neste lugar quem for totalmente passivo; quem resistir é louco ou perigoso.
(...)
A minha raiva, porque sou velha, é considerada sinal de loucura ou senilidade. Não é isto cruel? Retirar-nos-ão até a raiva justificada? Será também a irritação tratada como um sintoma?
(...)
As lágrimas são uma ofensa, fazem com que os outros se sintam atacados."
(...)
Só as vacas vão docilmente para a matança."

May Sarton

Hayao Miyazaki, O castelo andante



"O que a velhice tem de bom é não termos nada a perder!"

Ingmar Bergman, Morangos Silvestres

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Fellini, Ginger e Fred



"Não gosto dos comboiois que partem"
(Fred)

Requiem for a dream

Baby Jane Hudson

What ever happened to baby jane?

Straight Story by Lynch



"A pior parte de ser velho é lembrarmo-nos de quando eramos novos."

Oração da Terceira Idade

Senhor, ensina-me a envelhecer.

Ajuda-me a reconhecer as coisas boas da minha vida,
dá-me força para aceitar as minhas limitações
cedendo aos outros o meu lugar, sem ressentimentos nem recriminações.
Que eu aceite ir-me desapegando das coisas,
e veja nisso uma sábia lei da tua Providência,
que regula o tempo e preside à vida das gerações.

Faz, Senhor,
que eu seja ainda útil para o mundo, com as minhas pequenas tarefas,
mas sobretudo com o meu testemunho de paciência e bondade,
de serenidade, alegria e paz.

Dá-me, Senhor, a tua força
para enfrentar as contrariedades de cada dia,
particularmente a doença e a solidão.

Que os últimos anos da minha vida mortal sejam como um pôr-do-sol feliz:
que eu saiba envelhecer e morrer com a serenidade e coragem
com que Tu, Senhor, morreste na Cruz!

Para que um dia possa também ressuscitar para a glória do teu e nosso Pai
e ir ao encontro daqueles que partiram antes de mim!

Ámen.

Pudor

"Primeiro tinha deixado de prestar para trabalhar. A seguir deixou de prestar para ter uma casa. Finalmente, deixou de prestar para querer. Agora nem sequer prestava para recordar. Só para olhar. 
(...) 
Um par de cuecas, a escova de dentes, a bata. Uma vez, há anos, pensou que acumularia muitos pertences à medida que avançasse para a velhice. Interrogou-se onde estariam todos os objectos que tinham passado pela sua vida. As coisas que levava na mala eram apenas as suas últimas coisas."

Santiago Roncagliolo

Uma cana de pesca para o meu avô

"Avô, tu também jogas futebol?
O futebol é que joga com o teu avô.
Com quem estás a falar?
Contigo, contigo, quando eras pequeno.
Com este menino descalço?
Com esta alma despida.
Tens alma, tu?
Espero que sim, senão estaria muito só neste mundo.
Sentes-te só?
Creio que sim, neste mundo.
Em que mundo?
Neste mundo interior desconhecido dos outros.
Ainda tens um mundo interior?
Espero bem que sim, só neste mundo é que te sentes livre."

                                                                                                  Gao Xingjian

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Fábrica

A Fábrica é um espaço de criação na área das artes performativas que surge no Porto onde residem oito companhias de teatro e uma produtora de cinema e em que o edifício é gentilmente cedido pela ESMAE - IPP. Todas estas companhias são recentes e apostam sobretudo na criação de linguagens próprias criando identidades bastante particulares. Este espaço é também composto por uma sala de apresentações que permite a divulgação dos trabalhos que as companhias produzem assim como o acolhimento de projectos exteriores à própria Fábrica.

Introdução

Este projecto surge da vontade de criar um espectáculo que aborde as questões que se levantam quando falamos da velhice. Pretendemos fazer uma abordagem a este universo de modo a criar um contexto de reflexão acerca da condiçaõ de "ser velho". Pensar no que isso significa, tendo em conta que é consequência inevitável da passagem do tempo. Este processo cronológico pelo qual um indivíduo se torna mais velho consiste num processo de deterioração inexorável e irreversível, em que a vida parece ficar resumida a um conjunto de memórias ou recordações. Já não são os sonhos do que há-de vir, que oferecem sentido à sua existência, mas a possibilidade de recordar ou reviver o que foram um dia.
Interessa-nos pensar na velhice como um processo natural de envelhecimento, na medida em que é um facto da existência humana, inevitável e universal. Acontece em tudo o que existe, em todos os seres vivos, em todos os objectos. Reflectir acerca desta condição, no sentido de perceber quais as consequências deste processo, quer seja ao nível cognitivo e emocional, ao nível da perda das capacidades físicas e motoras bem como sob o ponto de vista sócio-cultural, no modo como é olhada a velhice numa sociedade ocidental.

Ficha

Co-produção: Ana Lúcia Cruz e Gilberto Oliveira / GDA

Concepção artística e plástica: Ana Lúcia Cruz e Gilberto Oliveira
Interpretação e dramaturgia: Ana Lúcia Cruz e Gilberto Oliveira
Textos: Margarida Fernandes
Design: Julio Dolbeth

Duração apróximada: 60 min

Estreia prevista: 7 de Março de 2008
Local de apresentação: Fábrica, Rua da Alegria, nº341, Porto

Sinopse


E se um dia acordarmos e temos 80 anos? Olhamos à volta e percebemos que estamos confinados a um espaço porque demoramos demasiado tempo a chegar à porta.

A nossa memória é a única viagem que ainda conseguimos percorrer:

O que vamos recordar?
O que recordamos é imaginado?
Fantasiamos sobre as nossas próprias recordações?

O tempo que levamos a chegar àquela porta é o suficiente para adormecer o presente e reencontrar o passado.